17 DE JANEIRO – DIA DE SANTO ANTAO
17 De Janeiro de 1462, 17 de Janeiro de 2012 – 550 anos de Historia
Embora não se possa situar com absoluta exactidão histórica a data da descoberta das ilhas que formam o arquipélago de Cabo Verde, pode admitir-se, de acordo com os documentos oficiais, que teve lugar entre os anos de 1460 e 1462. A ilha de Santo Antão encontra-se mencionada na carta régia de 19 de Setembro de 1462, juntamente com as outras ilhas ocidentais. Se considerarmos os topónimos destas ilhas e as datas do calendário religioso que coincide com nomes de santos (S. Nicolau, 6 de Dezembro, Santa Luzia, 13 de Dezembro, Santo Antão, 17 de Janeiro, S. Vicente, 22 de Janeiro) pode-se concluir que elas foram descobertas entre Dezembro de 1461 e Janeiro de 1462, o que nos permite concluir que Santo Antão foi descoberto à 17 de Janeiro do ano de 1462, o que confirmaria a data em que se celebra os 550 (quinhentos e cinquenta) anos do seu achamento, Dia de Santo Antão, Padroeiro da ilha.
Sobre o inicio do seu povoamento, não se sabe ao certo a data exacta, mas, da análise dos relatos de alguns historiadores, podemos situar o povoamento de Santo Antão entre finais do século XVI e inicio do século XVII, com “algarvios e africanos vindos de Santiago e mais tarde madeirenses e açorianos, italianos, franceses, norte-americanos e judeus…” segundo Agostinho Rocha. Para o Pedre António Brásio, em 1573 o monarca pede ao provisor da Sé de Santiago que ponha na igreja de Santo Antão “um capelão que aos fregueses dela diga missa aos Domingos e festas e dias de guarda e lhes administre os Sacramentos”.
Como as restantes ilhas de Cabo Verde a exploração da de Santo Antão começou pelo regime de doações, que “vigorou de 1” de Janeiro de 1538 à 7 de Agosto de 1759”. O primeiro donatário da ilha foi Gonçalo de Sousa que a recebeu por carta de Doação de 13 de Janeiro de 1538, que mais tarde devido ao seu falecimento, sem deixar um herdeiro homem, a ilha é doada por D. Filipe I ao Conde da Horta D. Francisco de Mascarenhas com o título de conde de Santa Cruz e da Horta. Assim esteve nas mãos da família Mascarenhas até 1759, altura em que reverte à coroa no tempo do Marques de Pombal, depois de ter condenado à forca o 6° conde de Santa Cruz o Marques de Gouveia e Duque de Aveiro, D. José de Mascarenhas. Destacamos alguns aspectos históricos da hoje Cidade da Ribeira Grande, como o primeiro povoado, que tinha por nome de “ Povoação de Santa Cruz” fundada por D. Francisco de Mascarenhas, o primeiro Conde de Santa Cruz e da Horta, um dos primeiros donatário da ilha”.
Essa povoação foi elevada à categoria de vila por decreto de D. João V de 30 de Agosto de 1731 e a 7 de Maio de 1732 dando cumprimento as ordens régias, representando o rei, o desembargador Costa Ribeiro, a povoação é elevada à categoria de vila, denominada de R.ª Grande, e Santo Antão à categoria de Concelho, sendo a vila a Sede do Concelho, começando a sua evolução em todos sectores.
Com a elevação do Povoado a categoria de Vila cria-se a Câmara Municipal e o Concelho de Santo Antão, que vigorou como concelho único de 17321 até 1867 com a criação do Concelho do Paul pelo decreto de 3 de Abril de 1867.
A Vila da R.ª Grande até finais do século XIX (decreto de 23 de Dezembro de 1885) era a sede do Concelho de Santo Antão, abrangendo ainda a ilha de S. Vicente que, até meados do século XIX, se enquadrava no Concelho de Santo Antão para efeitos administrativos e judiciais.
A partir de 1885 com a transferência da sede do Concelho da R.ª Grande para D. Maria Pia, a Vila da R.ª Grande fica dependente da sua administração através de uma regedoria da Paroquia, onde o regedor era nomeado pelo Administrador do Concelho.
O comércio teve muito prestígio na Vila, que funcionou como ponto de escoamento dos produtos agrícolas oriundos dos Vales, colocando-os no Porto da Ponta do Sol e mais tarde Porto Novo com destino a S. Vicente, o principal mercado, onde os principais produtos de exportação, a aguardente e o café e mais tarde a banana, eram colocados.
A Industria foi sempre muito fraca e com pouca produção, exceptuando a industria dos derivados da cana-de-açúcar.
As fomes por sua vez afectaram a ilha, causando grandes períodos de decadência na evolução económica e demográfica da Vila.
Delas destacamos algumas, como a “fome de toco” -1804-1806. A “fome de pai Domingos” -1824-1826, que custou a demissão do Governador Chapuzete, por este ter aproveitado dos rendimentos da venda da urzela que pertencia a coroa para combater a crise. No século XX destacamos a de 1947-48, talvez a mais trágica, onde Santo Antão foi uma das ilhas mais afectadas. Tratamos ainda dos Problemas Sócio-Económicas e Conflitos, destacando os de 1886 e 1894, que tiveram como origem problemas económicos e políticos, envolvendo os moradores do Concelho da R.ª Grande e do Paul e as autoridades locais.
Destacamos também uma forte presença cultural que se manifesta de forma diversificada, desde a música, dança, festas de romaria e religiosas, artesanato, culinária e bebidas tradicionais, a literatura e ainda a sua arquitectura, pela sua importância e existência de aspectos singulares que necessitam ser preservadas como património. É o caso da sua Igreja Matriz, os Sobrados e a própria estrutura da Vila.
No sector da Saúde vimos também a sua evolução, não obstante vários constrangimentos, hoje estamos bem servidos. Só a título de exemplo em 1941 a ilha de Santo Antão tinha 1 (um) médico e 5 (cinco) enfermeiros para uma população de 35.653 (trinta e cinco mil seiscentos e cinquenta e três) habitantes, espalhados pelos três concelhos.
Hoje, o Hospital Regional – João de Morais – de Santo Antão, situada na Cidade da R.ª Grande, é uma grande infra-estrutura de saúde na ilha que dá algum conforto a população, pois já dispõe de alguns técnicos especializados na área da saúde.
As primeiras escolas primárias em Santo Antão foram criadas entre 1836/1850, tendo mais tarde espalhadas pela ilha, onde a Vila da R.ª Grande com a criação da Escola Central Roberto Duarte Silva, em 1918, tinha a jurisdição sobre todas as outras escolas, funcionando como modelo.
Em 1968 deu-se os primeiros passos para a criação do Liceu de Santo Antão por um grupo de moradores com a criação do Esternato-Liceu da R.ª Grande, oficializada em 1973.
A altura da independência de Cabo Verde já tinha três níveis de ensino em Santo Antão: o pré-primário; o primário; e o preparatório, com uma única escala, funcionando no concelho da R.ª Grande.
Hoje temos duas escolas secundárias no Concelho, a Escola Secundária Suzete Delgado e a do Coculi. Assim podemos concluir que a R. Grande sempre funcionou como o centro educacional da ilha de Santo Antão.
Desde a criação da Vila em 1732 até hoje, tem desempenhado um papel importante no desenvolvimento do concelho e da ilha, tanto a nível económico, administrativo, cultural, educacional, ou melhor em todos sectores.
E a prova disto é o desenfreado crescimento a nível urbanístico, a nível de infra estruturas e serviços e mesmo a nível económico.
Concluímos que durante o período de 1732 a 1975, a Vila da R.ª Grande sempre desempenhou um papel importante no Concelho, servindo como ponto de partida da colonização da ilha de Santo Antão, isso devido a sua situação privilegiada na confluência de duas ribeiras produtivas e de muitas águas.
De 1732 até 1885 a Vila exerceu as funções de sede do Concelho de Santo Antão, exercendo o poder administrativo e judicial sobre toda a ilha, tendo sido também sede da comarca de Barlavento entre 1874 a 1934.
A Cidade de Ribeira Grande possui um grande valor arquitectónico e urbanístico que precisa ser preservado, enquanto património histórico.
A Cidade ao longo desses séculos da sua existência tem funcionado como “motor” do desenvolvimento do concelho da R.ª Grande e de Santo Antão em geral.
Bibliografia:
MAURICIO, António Joaquim – Evolução Histórica da Vila da Ribeira Grande (1732-1975), Monografia, Praia, Julho de 1999